
Brasília — cidade lunar. Formas geométricas, deslizantes, suaves, polidas cortam o espaço e coabitam com o silêncio do homem, só. Luis Humberto, fotógrafo, nas primeiras páginas do seu livro Brasília: sonho do Império, capital da República, deixa livremente “abrasiliar” (pousar?) os astronautas — pedestres que chegam de todos os cantos do Brasil para se dissolverem dentro da cidade-sonho, do império. As silhuetas, transformadas em pequenos elementos urbanos, movem-se (não vivem, se deslocam apenas) ao longo dos traçados geométricos que rasgam o espaço. E de repente a vida penetra dentro da cidade através de um pulo da criança dentro do papel fotográfico.
Os edifícios transformados em décor se afastam e, meros observadores, acompanham de longe o dinamismo vitalizador do correr, atravessar e escapar da criança das ruas da cidade e do espaço fotográfico. As pessoas captadas pela percepção aguçada pela percepção do fotógrafo seguem, dentro da imagem, as linhas de composição rigorosa. Mas ficam “sequestradas” apenas por um instante só, para receber um impulso centrífugo, ultrapassar os limites do papel fotográfico e se lançar ao encontro do leitor. Às vezes, a foto dá a impressão de um fragmento visual, parte de uma sequência, de um filme imaginário. O caminhar das pessoas-imagens foge do controle do fotógrafo, que cede lugar à criatividade e imaginação do leitor. É este que estruturará as fotos inexistentes geradas pelo dinamismo da imagem-fonte.